10 de setembro de 2011

O MUNDO DO ROSPO — 11




AS BOLHAS DE SABÃO


Na copa de cada árvore, estourando nos fios, nos telhados, entrando nos quintais, nas varandas, lá no alto, na roda gigante do parque de diversão, nas janelas dos edifícios, explodindo nas antenas. Namorados interrompendo abraços, amantes abrindo as janelas. A cidade transformou-se numa multicolorida chuva de bolhas de sabão. O homem sério e carrancudo assovia uma canção, um gari recita um poema, num balcão de bar um bêbado chora de saudades. Todos deixam as suas casas, os seus afazeres; nos circos os espetáculos são interrompidos pela invasão de milhares de bolhas de sabão, e os palhaços saem para as avenidas com suas roupas coloridas, e os malabaristas são seguidos por dezenas de crianças; em cada cinema, diante da tela, a profusão de arco-íris. E as pessoas deixam os seus escritórios, e estão nas calçadas da Avenida Paulista. Nunca se viu tantos celulares fotografando... O guarda de trânsito suspende o olhar, encantado com a visão. "De onde está vindo isso?"— pergunta um pipoqueiro. E como já é feriado, em todos os rostos brotam sorrisos jamais vistos. Um homem acaricia pela primeira vez o seu cão. E as bolhas de sabão lavam os sentimentos atrofiados e os corações desocupados pela falta de namoro, e um pai diz pela primeira vez para a filha adolescente, que sempre sentiu falta do sorriso dela alegrando a casa. E um pedreiro enquanto prepara a massa, tamborila no cabo da enxada um rock in roll, e um marido elogia pela primeira vez o vestido da esposa, e um outro convida a mulher para tomar um sorvete e caminharem pela cidade. E um vizinho pela primeira vez presta atenção num samba. E lá, numa praça, sentadinha num banco, sossegada, na sua, a menina, a menininha, continua com seu canudinho, soprando as bolhas de sabão.
Olá! Hoje é sábado, é dia de poesia, de sorvete, de sabadoficar a vida.
E sabadoficando lá vamos nós!
Acordem o caramujo, por favor!

No lançamento do livro "Uma Dúzia e Meia de Bichinhos", no estande da Saraiva, na Bienal do Livro, em 2000.
ELE CHEGOU!
CHEGA! E EU?

 NAMORO SURREALISTA
Nem sempre acredite no que está vendo, pois às vezes o que pensa que é, é pura ilusão, puro disfarce, sendo assim, não acredite que o Rospo está na praça lendo o jornal. O que ele está é ouvindo a conversa do casal de namorados no banco ao lado. E vamos ouvir também,  começando pela sinceridade do namorado.
—Meu amor, você é a única sapa que eu amo. Só você está no meu coração.
—Mas você saiu com aquela sapa.
—Mas com ela é só sexo!
—Jura?
—Juro, é só você quem eu amo. Com ela é só sexo. Eu jamais mentiria para você.
—Está bem, eu acredito.
—Alguma vez já demonstrei que não amo você?
—Mas eu não suportaria ver você nos braços de outra sapa.
—Meu benzinho, isso jamais acontecerá. Eu jamais permitirei isso. Pode ficar em paz, jamais irei pelos caminhos por onde você anda.
—Posso confiar em você?
—Pode, jamais me verá nos braços de outra sapa.
—Ei, seu moço!, você que está aí, lendo o seu jornal..., acha que eu devo confiar nele?
—Sapa, por favor, como bem disse, estou aqui lendo o meu jornal. Não me ponha no meio disso. Eu nada entendo de namoro surrrealista.
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 GALERIA DO ROSPO









ISSO É EXIBICIONISMO!
QUEREMOS HISTÓRIAS!

O SAPO E O ARGUMENTO


Rospo, argumentar significa "emitir luz"...
Também gosta de estudar a origem das palavras, Sapabela!?
Adoro, Rospo.
Então, quando argumento estou emitindo luzes...
Sim, uma emissão de luzes na conversa...
Os sapos que gostam de argumentar são emissores de luzes...
Exato. Argumentar é justamente isso. Esse é o sentido original da palavra: emitir luzes...
Maravilha, Sapabela. Devemos sempre argumentar.
Se depender de mim serei mais do que um feixe de luzes, serei uma cachoeira, uma avalanche...
Como você argumentando, minha amiga, as nossas conversas estarão plenas de luzes...
—Como sempre foram...Rospo... Como sempre foram...





A TRISTEZA E O CORPO



Rospo, quando os sapos estão felizes, eles comem muito... Por quê?
Sim, Sapabela. Sapo alegre ou feliz come de forma exagerada, quase sempre...
Também dança. São formas da mente comunicar ao corpo o estado de felicidade e euforia?
O corpo quer participar, Sapabela, almeja fazer parte da felicidade do momento, anseia por isso...
Como? Dançando?
Sim, ele não ficará imóvel de jeito nenhum, quer colaborar com a mente, diz, "Eu estou aqui", e demonstra que não quer ficar fora da felicidade, quer partilhar com a mente, a alma. E até comendo, que é outro de seus recursos...
E quando o Sapo está triste, quando a mente, a alma, está triste, em estado de melancolia, sofrendo?...
O sapo come sem freios, do mesmo jeito, e às vezes, quase sempre, come bem mais, ou bebe...
Come ou bebe? Mas não dança...
A tristeza é uma infecção da alma, uma força que debilita o ser, e o corpo é o mais atingido, e sempre corresponde à mente, à alma, que se triste e melancólica está, o corpo também faz questão de partilhar isso, e no caso resulta em enfraquecimento, diminuição da potência, da...
Está parecendo Espinosa isso...
Sempre fica na gente, não é?
Fale mais...
Ao se alimentar com exagero, o corpo emite um sinal de socorro, de amparo para a mente, talvez acredite que assim a mente estará alimentada e poderá enfrentar com mais firmeza o terrível invasor, o mal que se espalha, pois a tristeza é de fato um mal... de causas danosas e deverá ser evitada a todo o custo...
Ou talvez, ao perceber as emanações de tristeza da alma, sinta-se tão frágil, em perigo, pois a tristeza é perigosa, e busque compensação na comilança... Fortalecendo-se para enfrentar a tristeza...
Estamos falando a mesma coisa, Sapabela. Enfim, o corpo come demais na alegria e na tristeza... Mas ele não é independente. De qualquer forma, o estímulo vem da mente. Ou seja, corpo e mente, alma, formam um universo único, uma unidade...
Rospo, a Psicanálise e a Ciência já têm respostas para esses comportamentos do corpo...
Sei, Sapabela... Mas, as nossas conversas vão fuçando..



AVISANDO O CORPO


Rospo, já é luar, e eu vou avisar o meu corpo que amanhã é sábado.
Que papo é esse, Sapabela? Hoje é quinta!
Todas as noites eu faço isso.
O que você faz, Sapabela?
Aviso ao meu corpo que o dia seguinte é sábado. Todos os dias são. E você sabe, sábado temos que capturar logo cedo. Bem na manhã devemos aconchegá-lo entre nossos braços e aí...
Pode deixar mais claro isso?
Deixar claro é comigo mesma. Por isso sempre preferi ler Filosofia por conta... Sem ler os críticos resenhadores primeiro... Só depois que eu leio no original é que vou aos críticos e então descubro como é tão complicado um sistema filosófico que no original parecia mais simples.
Tudo bem, Sapabela, não precisava essa cutucada, mas...
Cutucar? Mas não estamos na Rede!... Bem sabe que as palavras estão sendo alteradas em seus sentidos, graças à Internet. Carregar virou outra coisa, e cutucar também...
Sapabela, você não sossega! Fale das suas noites...
É verdade, Rospo. Todos os dias são sábados, podem ser, e então aviso o meu corpo.
Por qual razão faz isso, minha amiga?
É que assim meu corpo, ao ser avisado à noite, então acorda na leveza, aquela leveza que o sábado quer.
Está bem, Sapabela, tenho muito o que aprender com você. Vamos tomar um sorvete?
Já estou lá. E falando em Spinosa...
Eu não falei!
Estou antecipando o sorvete.
Entendo, a conversa vai junto...
Claro, sorvete que se preza é como sábado. Só leveza, só alegria.
E, para você, discutir Filosofia é alegria?
Falar sobre livros, Rospo. Eis a chave da alegria. E haja sorvete.




SAPABELA E A VAIDADE


Sapabela, que lindo o seu esmalte! ... Só não compreendo o excesso de roupa...
Excesso? É apenas um vestido, Rospo! E até um pouco curto...
—  Tem razão, é apenas um vestido... Eu que ando com excesso de imaginação...
Do que está falando, Rospo?
Estou brincando com você, minha amiga...
Que bela estratégia...Transforma em brincadeira uma vontade oculta...
Agora eu que não entendi! Vontade oculta?...
Rospo, já ouviu aquele ditado?: "Onde há brincadeira, tem verdade"...
Sim, é uma adaptação livre do ditado da fumaça e do fogo...
Mudando de assunto: obrigado pelo elogio do esmalte. Sou um pouco vaidosa, Rospo...
Só um pouco não vale, Sapabela...
Mas a vaidade é boa em si?
Quando a vaidade se vai, vai a idade...
Gosta da vaidade?
Não pode ser excessiva a ponto de ultrapassar outras prioridades...
Quais, por exemplo?
A vida virtuosa...
É possível vida virtuosa com vaidade?
Naturalmente. E a vaidade torna a vida melhor, mais refinada, mais requintada... Uma vida sem vaidade, em vez de requintada, é uma vida requentada...
De que forma a vaidade torna a vida melhor?
Ora, todos saem ganhando...
Explique isso.
Uma sapa naturalmente vaidosa torna-se mais bonita...
Sim?
E eu, que sou amigo dela, saio lucrando...
É?
Sim, eu, no meu caso, posso ter o privilégio de ficar olhando uma amiga Sapabela mais linda...
Rospo, bem que já está na hora de um certo Sapo também ser um pouco vaidoso, não é?
Hã?



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Rospo, gostei, mas agora eu quero uma poesia. 
A poesia da menina.


HORA DA POESIA

A ARTE DA ILUSTRAÇÃO  NO LIVRO INFANTIL


Ilustração de Nireuda Longbardi para o livro 
O PALÁCIO DOS EUCALIPTOS

E vamos que vamos!


Oi...
Oi...
OI...
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QUE SAPO PERSISTENTE!...



TCHAU!
Durante a semana estarei na cidade de Itatiba.
Eu, o Marciano Vasques,
Não o sapo.

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