20 de agosto de 2011

O MUNDO DO ROSPO — 8

Amigos, foi uma alegria só a  minha tarde na FELIT, em São Bernardo, sábado passado, 13 de agosto, no lançamento do livro ALGAZARRA DAS LETRAS. Aqui algumas imagens. O que me deixou mais feliz, sem dúvida, foi o encontro com os amigos e os leitores. Foi uma verdadeira algazarra no coração.








E esse foi o livro que brilhou!





Mas, chega de papo, pois ele está querendo entrar, e vocês sabem, o blogueiro é um sujeito e tanto. 
Então, aqui, no nosso sábado: O BLOGUEIRO!






Bem, sei que ele merece, mas se deixar, só dá ele neste sábado, e tem um sapo e sua amiga...
Mas antes, um olhar:




E finalmente eles, o Rospo e a Sapabela! E suas radiantes conversas  num brejo muito especial.




ROSPO NO AEROPORTO
— Deputado! Deputado!
— Quem é esse sapo? Eu o conheço?
— Sou o Rospo. Estava passando aqui pelo aeroporto e...
— É jornalista?
— Não. Nem precisa sorrir nem ser simpático... Já está indo?
— Já, e se ficar perdendo tempo, perco o avião...
— Para aonde vai, deputado?
— Por que devo lhe responder?...
— Deputado, eu votei! Juro! Sou um eleitor.
— Mas não deve incomodar os outros...
— Para aonde está indo, meu nobre deputado?
— Para a minha cidade... No final de semana não fico na capital federal...
— Mas ainda é quinta...
— E você quer que eu trabalhe até sexta? Não sou professor, não sou bancário, não sou operário... Daqui há pouco vai querer que eu seja também caixa de supermercado...
— Entendo, senhor deputado.
— Posso ir, senhor?...
— Rospo, deputado, Rospo...
— Meu avião já vai decolar...
— E nós?
— Nós quem?
— O povo do brejo, nós, os sapos e as sapas...
— O que tem?
— Quando nós iremos decolar?
— Ora, senhor Rospo... Cada qual cuida de si...
— Entendo, senhor deputado, boa viagem...
— Ora...
— Bom final de semana....
— Não amole.

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O TAPETE E A ESCADA

—Rospo, aqui está um tapete.

—Não! Você não. Tchau, e obrigado.
—Rospo, pegue o tapete que estou lhe oferecendo.
— Não, Sapo, não preciso da sua ajuda. Obrigado.
— Rospo, leve o meu tapete.
—Não, amigo Sapo, não preciso do seu tapete. Faça bom proveito dele.
Depois de encontrar diversos conhecidos pelo caminho, Rospo encontra sua amiga Sapabela.
—Olá, Sapa. Que saudades!
—Eu também, desde ontem não conversamos.
—Estou com um problema, estou vivendo um aflição.
—Rospo, quero ajudar.
—Obrigado, você é uma amiga de verdade.
—Tome uma escada.
—Agora sim, confirmo o que acabei de dizer.
—Não sabia que ficaria tão feliz com uma escada.
—Pois é, Sapa, é mais fácil para muitos oferecer um tapete, que pode ser puxado, do que uma escada, que pode nos auxiliar a subir e lá do alto ver com mais clareza uma solução para os nossos problemas. Obrigado pela sua escada.
—Disponha.

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O CAFEZINHO E AS PIADAS



—Rospo, a minha amiga está desesperada. Telefonou ontem à tarde.
—Quem?
—A Colibrã.
—Sei, a do único nome, a que é mil.
—Pois é ela.
—E o que aconteceu?
—Como sabe, ela trabalha numa repartição pública. E então, sequestraram a funcionária que faz o café.
—É mesmo? Já li uma piada semelhante, que anda pela rede...
—Não é piada, Rospo! Os sequestradores estão exigindo milhões de $. Ninguém trabalha mais lá.
—Sei, agora não.
—Estão organizando um movimento. Vai ter manifestação, passeata, daquelas de rasgar ao meio uma cidade.
—Sapabela, estou adorando essa brincadeira.
—Rospo, não está me levando a sério. A Colibrã está mesmo desesperada.
—Ora, Sapabela, a piada que andei lendo, como a maioria das piadas, é carregada de estereótipos, quando não, de preconceitos. Na verdade, a história do leão que comeu a funcionária que fazia o cafezinho, é também assim.
—Explique, meu amigo...
—Geralmente, e sempre, as piadas são anônimas. Piada não tem autoria. Consegue por acaso identificar um só autor de qualquer piada sobre as loiras?...
—Ou sobre os negros.
—Sobre os negros ninguém mais tem coragem de contar publicamente.
—Quer dizer que o racismo ainda existe!
—Perambula pelo brejo, com certeza.
—Mas, e então?
—Então que piadas são um rico manancial de estereótipos.
—E o que tem isso a ver?
—Veja no caso da piada do fazedor de cafezinho na repartição pública: tenta incutir na mente dos ouvintes que funcionário público não trabalha, que todos são iguais...Nem imagina o quanto as sapas trabalham numa creche ou numa escola infantil... Nem tenha ideia de como professor trabalha e outras tantas categorias, como na Saúde, por exemplo...
—Sei, mas o que isso de fato quer dizer?
—Quer dizer que se realmente tem, e tem, funcionários lá no alto, aqueles de indicação política, que  geralmente, com exceções, não trabalham, uma boa parte então do acervo de piadas quer fazer crer que os pequenos, os que estão na base... Não trabalham, todos fazem corpo mole.
—É verdade, Rospo. Tem razão.
—Às vezes, tenho.
—Não ouvirei mais piadas. A partir de hoje não gosto mais de piada, pois todas, no fundo, são carregadas de estereótipos, não existem piadas inocentes.
—É mais ou menos isso.
—E você? Irá comigo?
—Ir aonde?
—Na manifestação contra o sequestro da sapa que faz o cafezinho...
—Você é demais, Sapabela. Vamos tomar um...
—Café?
—Sorvete, né, menina? Sorvete!
—Já estou.

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RESISTÊNCIA
—Sapabela, tem algo que me comove.
—Isso é tão bonito, Rospo.
—Mas eu nem falei ainda!
—Um co  - piloto em nossas vidas.
—O que está dizendo, Sapabela?
—Quando somos co-movidos, quer dizer, somos orientados pelos nossos sentires, os nossos sentimentos, ou seja, o nosso coração, então, não estamos a nos mover sozinhos.
—É, você sempre divagando, sempre extrapolando em beleza as coisas simples que se diz.
—Mas, fale, amigo, o que afinal o co-moveu?
—Até que enfim! Então, vamos lá: o "Algo" que sempre me comove é justamente saber que somos resistentes, que temos resistência a tudo que nos é imposto.  Assim, como somos capazes de ficar horas diante da tela apenas para escrever um poema.
—Mas você não faz isso, Rospo, seus poemas não têm história, não têm rastros... Você escreve na hora, de uma vez só, direto.
—Mas foi um exemplo que eu dei, Sapabela. Veja outro exemplo. Uma professora, que se empolga diante da construção de um poema pelo seu aluno, e sente prazer em ensinar, em transmitir, essa mesma professora sente uma aversão imensa por preencher papéis impostos...
—Entendi, mas, fale um pouqinho mais sobre essa tal resistência.
—É justamente isso: somos resistentes a tudo que nos é imposto. Ainda temos essa fortaleza em nós. Nada de imposição. Só queremos ser autênticos em nossas dores, nossas esperanças, nossas alegrias e nossos sentires.
—Rospo?
—Sim?
—Xeque-mate!
— Isso! Eis um bom exemplo!
—Que exemplo?
—Essa preguiça que dá quando temos que pesquisar se tal expressão tem hífen ou não... Justamente por causa da resistência ao que é imposto. Até penso uma coisa: quando eu olhar para algumas palavras que tinham trema e nem lembrar disso, algo muito lindo terá morrido em mim.
—Rospo, vamos em frente com a nossa resistência. É o nosso tesouro. Agora, que tal um sorvete?
—Bem, aí não tem quem resista!

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O SAPO E O JARDIM



—Que rotina! – Exclamou o sapo jardineiro, cansado de um dia inteiro adubando, podando, regando.
—Todo dia a mesma coisa! – choramingou. – Vou embora, fazer algo diferente. Daqui para frente, chega de jardim! Quero ser um sapo importante.

Num instante ele se foi, deixando flores coloridas: dálias, rosas, crisântemos, margaridas...


Todos que por ali passavam, comentavam: — Que jardim encantador! Que belas flores!


E assim o jardim embelezava os olhos de quem passava.

  —Pena que esteja abandonado! – comentou o menino – Quem será que dele cuidava? – indagou.
  —Não sei! – respondeu a menina. – Mas deve ter sido alguém muito importante.


 
ILUSTRAÇÕES de Daniela Vasques





UM SAPO NA FILA


Um sapo falando na fila incomoda.

—Para, sapo! Vou te engolir.

  —Quem vai engolir sapo?
  —Isso já é moda no Brasil.

O sapo, educado, apela para o bom senso.
 
—Estou aqui para exercer o meu direito!
—O seu direito é votar! Não ficar falando...
  —Deixem o sapo falar!
 —Eu estou aqui há duas horas. Não quero ouvir papo de sapo. Ainda mais com este calor — disse uma eleitora com um colar.

—Eu quero ler.


—Eu quero voltar para o meu lar.

—Eu queria o mar.


O sapo decidiu calar.



Passado algum tempo, alguém resolveu provocar.


—Vai votar em quem, sapo?


O anfíbio, cândido, fala de seu candidato.


—Esse não, sapo! — berram na fila.
 —Deixem o sapo votar em que ele quiser!

—O voto é secreto.

 
 —Esse candidato vai transformar o país num brejo.
—Então está pra sapo!

—Vocês estão implicando com o coitado...


E assim foi até à hora do voto. Não deixaram o pobre em paz.



—E então, sapo? Fez a sua parte?

  —Fiz a primeira. Votei.

  —E qual é a segunda, sapo?

—Fiscalizar. Isso vai levar quatro anos.


MARCIANO VASQUES
Rospo e Sapabela são personagens registrados





               Até o próximo Sábado!


 




















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